ARTIGOS

On-line version ISSN 1981-1829
Ciênc. agrotec. vol.32 no.6 Lavras Nov./Dec. 2008
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-70542008000600003 

As praças Dr. Augusto Silva e Leonardo Venerando Pereira, Lavras - MG, segundo a visão dos seus frequentadores

The park dr. Augusto Silva, Lavras - MG, according to viewpoint of its users


RESUMO
As praças públicas, além de contribuírem para o embelezamento das cidades, também desempenham uma função importante no contexto urbanístico ambiental. A Praça Dr. Augusto Silva, situada no município de Lavras, MG, também já foi chamada de Largo da Matriz, Praça Central e Jardim Municipal, que foi inaugurado oficialmente em 29 de novembro de 1908, quando passou a ter o nome de um ilustre médico lavrense. A praça Dr. Augusto Silva, possui atualmente, área de 7.552,65 m2 e apresenta como prolongamento a praça Leonardo Venerando Pereira, com área atual de 2.041,72 m2. Até 1940, esse prolongamento era denominado de Praça da Bandeira. Constatou-se, que desde o início da década de 1910, o local foi palco de grandes celebrações e encontros políticos e também foi muito freqüentado pela população. A Praça possui rica vegetação, onde se destacam uma centenária Tipuana (Tipuana tipu), diversos ipês (Tabebuia spp.), palmeiras-imperiais (Roystonea oleracea). Objetivando-se avaliar a situação atual e usos, foi realizada uma avaliação, mediante análise quantitativa e pesquisa junto à população. Foram feitas uma série de avaliações referentes aos seguintes itens: aspectos urbanísticos, físicos e a vegetação. A pesquisa de opinião foi aplicada a aproximadamente 600 usuários, na própria praça, em dias da semana e horários diferentes, por meio de um questionário com perguntas diretas ao próprio entrevistado. Os dados coletados foram analisados estatisticamente utilizando o Software SPSS, de onde foram obtidas as freqüências porcentuais. A maior parte dos entrevistados julga a praça como um ponto de encontro entre amigos, onde contemplam a sua beleza e descansam. Por meio de pesquisa de opinião realizada com os usuários da praça, pôde-se identificar que se trata de um local muito freqüentado por várias faixas etárias, em diferentes períodos do dia. A praça Dr. Augusto Silva mostra-se de grande importância na vida diária da população, melhorando principalmente sua qualidade de vida ambiental.
Termos para indexação: Áreas verdes, Praça pública, Paisagismo.



ABSTRACT
Public squares besides collaborating the beauty of cities, also exert important function in the environmental and urbanistic context. Dr. Augusto Silva square, situated in the city of Lavras - MG, has been already called Largo da Matriz, Praça Central and Jardim Municipal. It was officially inaugurated on November 29, 1908, when it started having the name of an illustrious doctor from Lavras. The square Dr. Augusto Silva, has a current area of 7.552,65 m2 and presents, as its extension, Leonardo Venerando Pereira square, with current area of 2.041,72 m2. Until 1940, this extension had been called Praça da Bandeira. Since then it was evidenced than since early the 1910s, this place has been the stage of great celebrations and political meetings. It has also been a well frequented place by the population. It has rich vegetation, where a centennial tipuana (Tipuana tipu) and imperial palms (Roystonea oleracea) are distinguished. With the objective evaluating its current situation and uses, an evaluation was accomplished, by means of quantitative analysis and research together with population. A series of evaluations was made, referring to the following itens: urbanistic and physical aspects, and the vegetation. The survey was applied to approximately 600 users, in the park in different days of the week and schedules, using a questionnaire with direct questions to the interviewed ones. The collected data had been statistically analyzed using the software SPSS, where the percentage frequencies were been obtained. Most of the interviewed ones judges the park as a meeting place among friends, where they contemplate its beauty and rest. By means of researches of opinion made with the users of the square, one could identify that the park is a place well frequented by several age groups, at different periods of the day. Dr. Augusto Silva square has been of great importance to the daily life of the population, improving mainly their environmental quality of life.
Index terms: Green areas, Public squares, landscape design.


INTRODUÇÃO
A paisagem urbana deve integrar o homem com o meio ambiente e satisfazer às suas necessidades. No entanto, em decorrência do crescimento muitas vezes inadequado das cidades, o meio ambiente urbano vem sofrendo diversas modificações, que contribuem para a insatisfação da população.
As praças públicas no contexto urbanístico ambiental apresentam relevante papel na melhoria da qualidade de vida da população, são bens de uso comum que contribuem para o embelezamento das cidades. Normalmente, as praças são compostas por bancos, coretos, jardim, via de circulação, e muitas vezes outras estruturas (SILVA, 2003).
A Praça Dr. Augusto Silva foi palco de muitos encontros políticos e celebrações relevantes na década de 40, e continua contribuindo de maneira fundamental para o embelezamento e melhor qualidade de vida dos seus usuários, promovendo encontros, feira de artesanato aos domingos, área de reflexão e contato com a natureza, além de outros eventos sociais. Ela possui espécies arbóreas como a centenária Tipuana (Tipuana tipu), ipês (Tabebuia spp.), palmeiras-imperiais (Roystonea oleracea), entre outras, (SILVA, 2003). A praça é toda gramada com grama-são-carlos (Axonopus affinis), seguindo o estilo inglês. Na Figura 1, observa-se algumas das espécies citadas, dando destaque às palmeiras-imperiais.


A praça Dr. Augusto Silva, que também recebeu ao longo de sua implantação outros nomes, como Largo da Matriz e Jardim Municipal, é de grande importância histórica. Está situada na parte central da cidade e possui uma área total de 9.594,37m2, incluindo a Praça Leonardo Venerando Pereira, conforme levantamento planimétrico realizado.
A Praça Dr. Augusto Silva foi inaugurada em 29 de novembro de 1908, 277 anos, após a fundação da cidade. O nome dado a essa praça foi em homenagem ao ilustre médico lavrense Dr. Augusto José da Silva. É um espaço público de grande valor histórico para a população e também foi palco de inúmeros episódios políticos-sociais relevantes (SILVA, 2003).
Atualmente, as praças ou áreas verdes, têm fundamental importância em uma cidade, sendo utilizadas por pessoas de todas as idades e classes sociais, com a função de promover uma qualidade de vida melhor para população, fornecendo aos seus usuários recreação, lazer e uma vida mais saudável.
A praça, juntamente com as ruas, consiste em um dos mais importantes espaços públicos urbanos da história no país, tendo, desde os primeiros tempos da Colônia, desempenhando um papel fundamental no contexto das relações sociais em desenvolvimento. De simples terreiro a sofisticado jardim, de campo de jogos a centro esportivo complexo, a praça é, portanto, um centro, um ponto de convergência da população que a ela acorre para o ócio, para comerciar, trocar idéias, e ainda para encontros românticos ou políticos. Enfim, para o desempenho da vida urbana ao ar livre (ADAMS, 2002; ROBBA & MACEDO, 2002).
As praças são de grande importância numa comunidade, sendo fundamental um planejamento urbano adequado e tecnicamente bem executado, seguido de uma manutenção rigorosa, que levem à preservação e satisfação de seus usuários (CARVALHO, 2001).
É pelo uso que as pessoas fazem de uma praça um espaço importante para o seu dia-a-dia e convívio social (SOUSA, 2005).
Objetivou-se no presente trabalho analisar a situação atual da praça Dr. Augusto Silva, com a finalidade de avaliar suas características e usos.

MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizada uma pesquisa junto aos usuários da praça Dr. Augusto Silva e Leonardo Venerando Pereira, onde os aspectos urbanísticos, físicos e a vegetação foram avaliados, para se determinar quais as necessidades e opinião da população em relação à praça.
As praças estão localizadas na cidade de Lavras, MG, enfocando vários âmbitos. Os itens qualitativos foram previamente estipulados em uma ficha de campo (formulário), com as seguintes características:
a) aspectos gerais sobre a praça: questionou-se a beleza da praça, vegetação em geral, gramado, iluminação, limpeza, segurança, pavimentação, manutenção e diversão. Nesse caso, o usuário avaliou estes itens tendo como parâmetro os conceitos: péssimo, ruim, regular, bom e ótimo;
b) necessidade de acrescentar itens diversos: foram relacionados itens diversificados, tais como: atividades para criança, flores, lixeiras, iluminação, coreto, atividades culturais e outros. Esse último item, relacionado como outros, ficou livre para se obter uma opinião própria do usuário. Para a obtenção das respostas, o usuário respondeu dizendo satisfatório ou deficitário, conforme a sua opinião sobre cada item perguntado;
c) utilização da praça: relatou-se a freqüência com que esse usuário utiliza a praça, assim como os períodos do dia em que costuma freqüentá-la;
d) identificação do usuário: nesse item foi identificada a profissão do usuário, bem como sua faixa etária, nível de escolaridade e sexo;
e) aspectos da vegetação: foram avaliados os diferentes grupos de plantas ornamentais, tais como: árvores, arbustos, palmeiras, canteiros com flores e forrações. Assim como no item anterior, também foram utilizados os conceitos: péssimo, ruim, regular, bom e ótimo;
f) opinião pessoal: foi realizada uma pergunta que o usuário respondeu livremente com relação às mudanças na infra-estrutura da praça, de modo geral, no decorrer dos anos.
Para um estudo com proporções, o tamanho da amostra pode ser definido pela equação (1.1). A equação depende da margem de erro da pesquisa e do nível de confiança de 95%, considerando uma distribuição normal. Não se sabe, a priori, sobre o comportamento da proporção de indivíduos que possuem a característica de interesse e dos indivíduos que não possuem a característica de interesse. Dessa forma, adota-se o valor para a consideração da maior incerteza, sendo p = q = 0,5 (FERREIRA, 2005).



Adotando-se uma margem de erro de 4,1%, o tamanho da amostra foi definido em, aproximadamente 600 entrevistas. Determinado o tamanho da amostra, realizouse um processo de amostragem aleatória simples.
A análise estatística utilizada para avaliar a opinião dos usuários quanto à existência de significância foi o Teste Z para a proporção, considerando um nível de confiança de 95%. A equação do teste (equação 1.2) foi utilizada para testar se a amplitude entre as proporções era diferente de zero; caso fosse significativa, as proporções receberam letras diferentes (FERREIRA, 2005).


sendo pi e pi' proporções de classes diferentes e n o tamanho amostral.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Por meio do questionário, os entrevistados puderam avaliar os espaços em relação à sua beleza e à presença de árvores, arbustos, palmeiras e canteiros floríferos.
A partir dos resultados obtidos pela pesquisa de opinião, obtiveram-se algumas informações sobre o que acham os usuários com relação às características das praças Dr. Augusto Silva e Leonardo Venerando Pereira. Os resultados apresentam-se na Tabela 1.
Segundo a opinião dos usuários, em relação à beleza, a maioria, 91,5%, considera as praças como belas, avaliando-as nas categorias bom e ótimo, confirmando a ideia de serem consideradas monumento da cidade. As árvores e arbustos existentes na praça também agradam à maioria dos entrevistados, pois receberam 43% e 59%, respectivamente, de conceito bom. Em relação à presença de canteiros floríferos na praça, apenas 4,8% atribuíram um conceito ótimo e 15,8% como bom. A maioria, 34,2%, considera esse item como péssimo. A redução de canteiros floríferos foi conseqüência da reforma realizada em 2002, quando muitas espécies foram substituídas por folhagens. Essa modificação não agradou muito aos usuários.
Com relação à infra-estrutura da praça, a avaliação de seus usuários revelou que os itens avaliados (lixeiras, atividades para crianças, atividades culturais, coreto ou palco e outros) foram enquadrados em itens satisfatórios ou deficitários para as praças. Com relação à realização de atividades para crianças, a opinião dos entrevistados foi dividida, ou seja, estatisticamente, as opiniões foram iguais, resultando em 43,7% para satisfatório e 56,3% para deficitário. Esse resultado talvez esteja associado às diferentes necessidades de cada usuário em relação a este item. Os resultados constatam-se pela tabela 2.
Observa-se que 52,7% dos usuários considera como satisfatórios o número de lixeiras ou a realização de atividades culturais (51,70%).
Perguntou-se também a opinião dos entrevistados sobre estruturas que a praça não apresentava. De acordo com os resultados, 60,8% deles se mostraram insatisfeitos, sendo necessárias outras estruturas. Entre os elementos solicitados a 39,2% dos entrevistados, têm-se a instalação de um ponto de informações (64%), seguido de bebedouro (22%) e ainda, de um banheiro público, solicitado, principalmente, pelos mais idosos e residentes em bairros mais afastados da praça.
Analisando-se a Tabela 3, observa-se que, por se tratar de uma praça central, a população a tem como referência. A maioria dos usuários entrevistados (35,5%) frequenta esse espaço público somente uma vez por semana, talvez por questões de necessidades pessoais ou, simplesmente, por lazer. Os frequentadores diários, bem como os que frequentam esse local duas vezes por semana, representam uma porcentagem estatisticamente semelhante, ou seja, 24,8% e 25,2%, respectivamente. Assim, acredita-se que a freqüência diária registrada pelos usuários possa ser por motivo de trabalho, pois o entorno da praça é constituído por várias agências bancárias e outros setores de negócios. A menor freqüência (14,2%) foi relativa às pessoas que frequentam a praça três vezes por semana.



Com relação ao nível de escolaridade, 45,8% dos usuários entrevistados possuem o ensino fundamental e 33% o ensino médio (Tabela 4). Os usuários que declaram ter curso superior, não frequentam a praça com muita assiduidade, comparados com os frequentadores de ensino médio e fundamental.



Indica-se na Tabela 5 a utilização da praça segundo a faixa etária dos seus usuários. Jovens entre 15-20 anos e pessoas acima de 60 anos apresentaram porcentagens próximas, 27,0% e 25,5%, embora tenham sido detectadas diferenças estatísticas. Acredita-se que os jovens frequentem a praça com a finalidade de entretenimento, já na faixa etária acima de 60 anos, que inclui, de modo geral, os aposentados, grupo esse que possui maior disponibilidade de tempo, a utilizam para descanso, contemplação e bate-papo.



Observa-se que adultos jovens, nas faixas etárias entre 30-40 e 20-30 anos, são os que menos freqüentam a praça, correspondendo a apenas 13,8% e 15,7%, respectivamente.
Em relação ao período de utilização, a menor freqüência foi observada no período da manhã (13,8%), conforme dados da Tabela 6. Apesar de ser uma porcentagem inferior em relação às demais, algumas pessoas utilizam o passeio de contorno da praça para realização de caminhadas nesse período. À tarde, a freqüência dos usuários da praça é maior, comparada à freqüência nos períodos do dia, o que pode ser justificado pelo fato das pessoas utilizarem à praça nos momentos de trabalho, pois corresponde ao horário de funcionamento bancário e de outras repartições públicas. À noite, o porcentual de freqüência é maior (40,2%) em relação aos demais.


A interação das variáveis períodos de frequência à praça e faixa etária, iluminação e segurança, diversão e faixa etária foram estudadas para verificar a existência de dependência. Foi utilizado o teste de c2, a 5% de significância. Todas as relações apresentaram significância e, com isso, pode-se afirmar que existe relação entre as variáveis. Por essa razão, foram feitos os desdobramentos utilizando-se o teste Z para proporções, a 5% de significância.
Para o estudo das variáveis períodos de frequência e faixa etária foi realizado o desdobramento, em que foram estudadas as diferenças entre as faixas etárias dentro de cada período. Os resultados apresentam-se na Tabela 7.


De acordo com os dados da Tabela 7, pode-se observar que o período de maior frequência, por jovens entre 15 e 20 anos (38,2%), é o noturno. Observa-se também que pessoas mais idosas (acima de 60 anos) utilizam a praça tanto na parte da manhã quanto na manhã e tarde (33,7%), mas são poucos (8,5%) que a utilizam apenas na parte da tarde.
Quando se analisa o período da tarde, pode-se concluir-se que a faixa etária que mais frequenta a praça está compreendida entre 20-30 anos, o que corresponde a 28,1% dos usuários. Acredita-se as pessoas dessas faixas etárias entre 20-30 e 30-40, frequentam a praça principalmente por motivos de trabalho, tornando-a assim um local de passagem.
Para o estudo das variáveis iluminação e segurança oferecidos pela praça foi realizado o desdobramento, sendo estudadas as diferenças entre os níveis de segurança dentro de cada nível de iluminação (Tabela 8).


Por meio dos resultados que constam da Tabela 8, pode-se afirmar que a iluminação foi preponderante na determinação da opinião da segurança do local. Segundo a opinião dos usuários que classificaram a iluminação como ruim, 47,5% deles também classificaram a segurança como ruim. Em relação à iluminação, 52,8 responderam que é ótima, classificando a segurança como boa.
Quando o fator avaliado iluminação é fixado, constata-se que quando os usuários a consideram um resultado bom (46,30%), a segurança também obteve uma proporção regular (46,30%), conforme Tabela 8. Com isto pode-se inferir que os itens avaliados iluminação x segurança estão associados segundo opinião dos usuários, mas não se tem uma correlação que explique a situação da praça.
Para o estudo das variáveis diversão e faixa etária foi feito o desdobramento que apresenta-se na Tabela 9.



Por meio dos resultados apresentados na Tabela 9, pode-se afirmar que usuários na faixa etária de 30 a 40 anos são os que consideram como péssima a diversão oferecida na praça. Isso justifica o fato de esse constituir o grupo que menos frequenta a praça (Tabela 5). Ao contrário, os jovens de idade entre 15 a 20 anos consideram a diversão como ótima, sendo esse o grupo que apresenta grande freqüência (Tabela 5). Também os usuários com a idade acima de 60 anos, que constituem outro grupo de grande freqüência à praça, consideram como boa a diversão oferecida na praça.
Avaliando a faixa etária 30-40 anos, verifica-se que a diversão está enquadrada como péssima, assim se pode constatar que essa faixa etária não está satisfeita com o que a praça tem a oferecer no que diz respeito ao lazer e diversão.


CONCLUSÕES

Analisando a opinião dos usuários da praça, podese concluir que:
- considerando a faixa etária, os usuários entre 1520 anos e acima de 60 anos representam a maior percentagem com relação ao período de freqüência à praça;
- em se tratando da beleza da praça conclui-se que a maioria dos usuários a considera como ótima, correspondendo a 91,5% dos entrevistados;
- a praça é um local muito utilizado pela população de várias faixas etárias, em diferentes períodos do dia. Os freqüentadores diários bem como os que freqüentam o local duas vezes por semana, representam uma porcentagem estatisticamente semelhante, ou seja, 24,8% e 25,2%, respectivamente;
- entre os entrevistados, 45,8% possuem o ensino fundamental e 33% o ensino médio. Curso superior é o nível de escolaridade de 21% dos usuários;
- a praça é muito freqüentada no período da noite por jovens de faixa etária entre 15-20 anos, correspondendo uma porcentagem de 40,2% do total de freqüentadores da praça.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADAMS, B. Preservação urbana: gestão e resgate de uma história. Florianópolis: UFSC, 2002. 192 p.       
CARVALHO, L. M. de. Áreas verdes da cidade de Lavras/MG: caracterização, usos e necessidades. 2001. 115 p. Dissertação (Mestrado em Agronomia) - Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2001.        
FERREIRA, D. F. Estatística básica. Lavras: UFLA, 2005. 664 p.         
ROBBA, F.; MACEDO, S. S. Praças brasileiras. São Paulo: USP, 2002. 311 p.        
SILVA, M. J. Ações estratégicas para o turismo no município de Lavras-MG. 2003. 167 p. Dissertação (Mestrado em Agronomia, área de concentração em Fitotecnia) - Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2003.         
SOUSA, B. A. de A. Análise da utilização pelos usuários de duas praças em Betim-MG. 2005. 53 p. Monografia (Pós-Graduação) - Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2005.        

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A Praça Dr. Augusto Silva, Lavras-MG: uma visão de usos, costumes e regulamentos nas décadas de 1910 e 1920.
 Alessandra Teixeira da Silva1, Thaísa SilvaTavares2
Engenheira Florestal;  Engenheira Agrônoma.
INTRODUÇÃO
               Os jardins e parques tiveram suas características ligadas ao pensamento estético nos diversos períodos ao longo da história humana, principalmente no que se refere ao seu planejamento e estrutura para uso público.
          Uma dimensão cognitiva do jardim passa ao largo de considerações racionais ou míticas, supondo apenas o reconhecimento de regras criadas e aceitas pela sociedade. Adentrar em um jardim implicava o aceite de regras de um jogo social imposto por uma norma de comportamento refinado. O jardim público era o local de encontros das elites ou dos segmentos derivados, passarela da demonstração, das vaidades expostas das trocas sociais legitimando pelos valores aceitos pelas sociedades que constituíram tais recantos (Segawa, 1996).
  Segundo Segawa (1996), para os parques e jardins da cidade de Belém, a administração local editou, em setembro de 1903, um “Regulamento para o serviço no Bosque, Horto e Parques Municipais” no qual pode-se relatar alguns deles: nos recintos públicos, não se permitia entrada às “pessoas que estiverem ébrias ou disso tenham hábito; os que trajarem indecentemente ou de modo ofensivo ao decoro; cães e outros animais”; estragar as plantas e flores; atirar pedras ou quaisquer outros projéteis; pisar e andar sobre a grama ou penetrar nos grupos de vegetação; permanecer nas sentinas e mictórios mais do tempo preciso para satisfazer as necessidades naturais; fazer algazarras; conduzir-se por palavras e atos de modo ofensivo ao decoro e à moral”. A penalidade por esses vários delitos era multa em dinheiro, expulsão imediata para fora do jardim e pagamento do dano que causar. Estas regras citadas acima podem ser comparadas ao regulamento da Praça Dr. Augusto Silva, no qual relata também a preocupação por parte do poder municipal em conservar e preservar o espaço público. Na época, alguns segmentos da população reconheceram o valor da praça, pois existia um movimento no sentido da necessidade de uma área verde útil à população.
               Os séculos XIX e XX foram decisivos na história da evolução das praças, considerando que a antiga praça passou a ser ajardinada, equipada, pavimentada e tratada com esmero, de modo a abrigar todas as novas modalidades de vida urbana que são então estruturadas (Robba & Macedo, 2003).
             A praça, juntamente com as ruas, consiste em um dos mais importantes espaços públicos urbanos da história no país, tendo, desde os primeiros tempos da Colônia, desempenhando um papel fundamental no contexto das relações sociais em desenvolvimento(Adams, 2002; Robba & Macedo, 2003).
            As praças são unidades urbanísticas fundamentais para a vida urbana e o seu modo de tratamento e uso indicam o nível de civilidade de seus usuários e o exercício dos direitos e deveres de cidadania nela vivenciados. É pelo uso que as pessoas fazem de uma praça um espaço importante para o seu dia-a-dia e convívio social (Sousa, 2005). 
OBJETIVO(s)
            O trabalho teve como objetivo resgatar parte da memória e história da Praça Dr. Augusto Silva, que tem uma ligação bastante íntima com o município, visto que este espaço público além de marco inicial da civilização foi também um local muito freqüentado com grandes celebrações e encontros políticos, sendo hoje uma grande área verde localizada no centro da cidade.
 METODOLOGIA

               A praça Dr. Augusto Silva, situada no município de Lavras, MG, também já foi chamada de Largo da Matriz, Praça Central e Jardim Municipal, tendo sido inaugurada oficialmente em 29 de novembro de 1908, na administração do senhor agente executivo (denominação da época para o cargo de prefeito), coronel Pedro Salles, passando então a ser denominada de Praça Dr. Augusto Silva em homenagem ao ilustre médico lavrense. Visando o embelezamento do Jardim Municipal, o idealizador do jardim, Sr. Bernardino Maceira, elaborou um projeto propondo calçadas cimentadas, que foi apresentado à câmara municipal no dia 15 de julho de 1905. Com a finalidade de reunir e elaborar um texto sobre o funcionamento da praça bem como seus costumes e usos, foi realizado um levantamento de documentos históricos, que foram pesquisados na Secretaria Municipal de Obras da Prefeitura Municipal de Lavras, em arquivos do museu Bi-Moreira, localizado no campus histórico da Universidade Federal de Lavras (UFLA), em acervos particulares e também entrevistas com historiadores, que assim puderam transmitir informações que tiveram como objetivo dar suporte aos documentos estudados nesta pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

              A praça era um lugar para passeio e não apresentava grandes atrações culturais até meados de 1908. Foi a partir daí que surgiu a iniciativa do lavrense e maestro Riciotti Volpe que revolucionou os usos da praça e trouxe grande alegria e diversão ao povo, inaugurando assim um barzinho dentro da praça com comidas típicas e música aos domingos e feriados.
             As apresentações eram, em princípio, ambulantes, ou seja, ao som de pianolas tocadas pelo capitão Evaristo Alves de Azevedo ou pelos irmãos, Atílio e Riciotti. Para a exibição dos filmes, o Sr. Riciotti Volpe construiu um pavilhão próximo à praça em comum acordo com a Câmara Municipal. Este cinema foi inaugurado em 12 de junho de 1910. . Assim, desde o início do século XX, Lavras já apresentava exibições cinematográficas.
               Em relação aos regulamentos, instalou-se na praça uma cerca, com a finalidade de isolar a área e regulamentar o seu uso. Observa-se na abaixo, a presença de uma cerca de arame farpado, vista em umas das laterais da praça, e outra no centro da praça, o que foi alvo de muitas críticas da população da época. Este fato foi registrado em artigo do jornal local, que relata profunda consideração ao “jardim público” da cidade, mas, ressaltando a presença da cerca, com os seguintes dizeres:
... e ali está o jardim com todas as suas utilidades incontestáveis, e, deveras agrada a vista a simetria dos seus canteiros e o trato que elles têm, apezar da cerca de arame farpado que o circunda e que deve ser provisória...”

  (O Jardim Público, 1909).

Vista parcial da Praça Dr. Augusto Silva, 1913.
          Fonte: Arquivos do museu Bi Moreira
     A praça era um local ajardinado no qual era constituído por um recinto fechado, cercado com arame e possuía quatro portões, um em cada lateral da praça, sendo estes trancados com cadeado à noite. Além disso, possuía normas de funcionamento, pois se têm relatos de que a praça era fechada às 20 horas, quando tocava o sino da cadeia. Antes do ano de 1910, quando ainda não havia luz elétrica no município, o funcionário da Prefeitura usava um bastão para apagar os lampiões a gás existentes na praça.
         Na administração do Dr. Álvaro Augusto de Andrade Botelho, foi instituído um regulamento no qual foi escrito em 12 de dezembro de 1917 e transcrito a seguir:
Regulamento do Jardim da Praça Dr. Augusto Silva
  Art. 1º. O jardim da Praça Dr. Augusto Silva, entregue ao gozo publico, será aberto todos os dias às 5 horas da tarde e poderá ser freqüentado por todas as pessoas que nelle quizeram entrar, salvo as manifestamente embriagadas e as que não se acharem decentemente vestidas. Entendem-se que pessoas decentemente vestidas as que trouxerem paletós e calças limpas, não sendo exigido que estejam calçadas.
   Art. 2º. Nos dias comuns o jardim será fechado às 8 horas da noite e nos domingos, dias santificados da Igreja   Catholica e de festa nacional o fechamento dos portões será feito às 10 horas. Nas tardes chuvosas não será freqüentado o jardim e quando aconteça sobrevir mao tempo depois de aberto os portões o encarregado os poderá fechar, convidando previamente os passeiantes a retirarem-se.
   Art. 3º. É prohibido tocar nas plantas e nas flores. O freqüentador do jardim que transgredir a prohibição será avisado pelo encarregado da fiscalização e na reincidência multado em 5$000.
  Art. 4º. São prohibidas as correrias de pessoas a pé pelas ruas do jardim, bem como as pessoas de carros ou de bicycletas, excepção feita dos carrinhos de crianças ainda mesmo puxados por animaes.
  Art. 5º. Os freqüentadores do jardim que se julgarem maltratados pelo pessoal do serviço da fiscalização ou que presenciarem actos de descortezia para com terceiros poderão communicar o facto ao agente executivo para que este providencie pela punição do empregado que faltou á cortezia para com o queixoso ou terceiro.
  Art. 6º. No caso de algum passeiante se recusar a sahir do jardim à hora do fechamento dos portões o encarregado da fiscalização communicará o facto à policia para providencias.
  Art. 7º. O encarregado da fiscalização usará como distinctivo da sua função
um bonet escuro com as letras C.M.
         Art. 8º. São revogadas as disposições em contrário.
  (Regulamento, 1917)
             O regulamento registra a preocupação, por parte do poder municipal, em conservar e preservar o espaço público. Na época, alguns segmentos da população reconheceram o valor daquela praça pública, pois se pode considerar como marco inicial de um movimento concreto no sentido da necessidade de uma área verde útil para a população. A beleza das flores e das plantas, de modo geral, não poderia transgredir aos olhos dos vândalos, pois a eles uma multa poderia ser aplicada. Em função de o logradouro ser de chão batido, a presença dos visitantes em dias de chuva dificultaria os acessos que, por sua vez, se transformavam em pisos barrentos. Com relação ao traje imposto para se frequentar a praça, este era bem formal, visto que a mentalidade da população ainda era provinciana. Em se tratando do uso do calçado, nem todas as pessoas o possuíam, razão pela qual as pessoas poderiam estar com uma indumentária descente e sem calçado. É interessante observar que o documento mencionava a existência de flores na praça.

CONCLUSÕES

                  Desde o século XIX, o jardim municipal já era um marco da civilização lavrense, pois o casario e as construções coloniais já faziam parte do seu entorno. Após a inauguração do Jardim Municipal, em 1908, ficou registrada a grande preocupação dos governantes em preservar e manter esta praça, visto que até a década de 1930, foram encontrados documentos que comprovam a adoção de posturas políticas que a deixaram, aparentemente, em um estado de conservação.
           A praça era um local ajardinado cercado por arame farpado onde se cultivavam várias espécies de plantas, inclusive floríferas.O início da década de 1910 marcou o desenvolvimento cultural naquele logradouro, com diversas apresentações de bandas e retretas, além de exibições cinematográficas.  
REFERÊNCIAS  BIBLIOGRÁFICAS
ADAMS, B. Preservação urbana: gestão e resgate de uma história. Florianópolis, SC: UFSC, 2002. 192p.
O JARDIM Público. O Incentivo, Lavras, MG, 15 ago. 1909.
REGULAMENTO da praça Dr. Augusto Silva. Lavras, MG, 1917. 1p. Manuscrito.
ROBBA, F.; MACEDO, S.S. Praças brasileiras. 2.ed. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2003. 311p. (Coleção Quapá).
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